sexta-feira, 19 de agosto de 2011

SOLO


Detesto a solidão
     ;

amo, vejais, ser em andorinhas
ou pardais:
na altura do céu azul em edifícios
vidraças ou metais;

eu detesto a solidão
noentanto estou só
cá no meu quarto
cá no meu canto
sob o soturno manto
de aqui dentro de mim;

(quando a vida perecer
só nos resta de legado
amor ou melancolia;

isso eu afirmo porque
a brisa ou o sol do dia
não pode ser capturado,

guardado com avareza
ou então acumulado,
se a visível natureza
colore-se em céu nublado;

a brisa é fluida e vadia
o sol é imenso e vário;
é natural que a poesia
seja um soneto ao contrário)

eu não estou só
                       - constato -
nem mesmo no silêncio do meu quarto,
e nenhuma emoção
nasce de introspecção;

todo o que digo
tudo o que sei
é nuvem e brisa e sol
e dor e trago que herdei:
a flor dos olhos sonâmbulos
entorpecidos pela claridade
da certeza
que em minha testa brota;

a miragem do concreto que
cerra minha carne, mas
declina ante meu gemido;

a dor em minhas costas
subjugadas pelo peso
do tempo que exaure meus ossos,
presente do antes e do depois;

o que julgo meu sopro
desejo ou idéia, pois,
(que supostamente nasce)
revela-se, descartando o enigma,
deliberação d'uma assembléia
composta por vozes milhares
sob o semblante solitário
de minha face.

(Marcos Cruz)

Nenhum comentário:

Postar um comentário