domingo, 20 de novembro de 2011

CONCORRÊNCIA

Eu estava de pé no ônibus, segurando o ferro da parte superior. Reparei que entrou um indivíduo – meio gordo, nem tão frágil – distribuindo os seus papéizinhos. Ele insistiu, eu segurei um também. No papel um texto mal escrito dizia que ele era deficiente e que necessitava de ajuda. Ele foi até o final do coletivo e, voltando até a parte da frente, começou a recolher os bilhetes de miséria.
Nesse momento o ônibus parou, abriu a porta de trás e subiu outro indivíduo rastejando, sem as pernas e com um braço, apenas. Fez um discurso de miserável otimista que dizia que “o pouco, com Deus, é muito” e recebeu todas as atenções e todas as esmolas do coletivo.
O primeiro desceu desapontado e eu não dei um tostão a ninguém.

(Marcos Cruz)