sexta-feira, 17 de junho de 2011

RÉPLICA DE IAIÁ



O
que falo me contenta?
O
que falo me supre?
O
que falo me faz plena?
Pergunto do
que falo
porque sabes bem que
eu nunca te fiz
promessas.

Sou a mulher que não é musa
nem nunca seduziu ninguém;
só procuro por outra carne
por ser de carne
e, enquanto a carne se sacia na carne,
também eu me sacio.

Eu não faço juras de amor
porque não amo ninguém
caso contrário o faria;
quanto a tu, não digas me amar:
se me amas, venha sofrer as regras ou parir
em meu lugar!
Quando isso for possível
aí eu acreditarei em amor...

O teu espanto
é o teu machismo,
insensato protótipo de reprodutor,
- já que, às vezes, mal é capaz de
prover a própria prole –
porque nunca esperas
ser devorado pela própria presa.

Eis que não sou presa,
nem me prendo: sou
arara que alça vôo sem amarras;
peixe que mergulha em mar ressaqueado;
paca que se embrenha em mato denso;

arara peixe paca
peixe paca arara
paca arara peixe

julgas-te pescador?
julgas-te caçador?
julgas-te passarinheiro?
se o fosses, eu de minha vez
seria a tempestade.

(Marcos Cruz)

Nenhum comentário:

Postar um comentário